: Não, foi só que ele, todo Natal ele dava um carrinho pra nóis, de plástico, custô acho dois reais, mais nessa veiz ele num tinha dinhero, daí ele feiz um pra cada um.
: Ficô mais bonito que o de plástico, né?
: Mais pra nóis tanto feiz, nóis curtimo igual.
: Brincô, puxô o carrinho?
: É, o meu durô treis dia, o do meu irmão durô uns 10 ano [risos].
: [Risadas].
: Como era de costume [risos].
: [Gargalhada].
: O meu acabava antes de todo mundo.
: E ele fazia de qual, cê lembra como que era o carrinho?
: Ah, eu lembro a roda só, que ele pegava uma madera e cortava, e fazia a rodinha lá, mais, é legal, viu.
: E era grande, pequeno?
: Ah, do tamanho dum, de uma caxinha de leite longa vida.
: Tá.
: É, mais ou meno.
: E ele pintava?
: Não, tudo de quarqué jeito memo.
: E pra vocêis era a festa?
: Ah, a festa, nossa! Tudo que a gente tinha!
: E tinha mais brinquedos, assim?
: Não, aí tinha o cavalinho-de-pau só, que tudo mundo tinha aqui, né? Cavalo-de-pau, que qualqué pauzinho era o cavalo.
: Ah. Achavam...
: É, quarqué pau era o cavalo. E eu lembro quando eu era pequeno, não sei aonde que eu tinha ido, eu e o pai, e eu fiquei, eu não aguentava andá mai de cansado, e o pai tava com um saco nas costa, né? Não podia me carregá. E eu tava reclamando de cansera, tava quase chorando memo, aí ele falô:
- Pérai que eu vô arrumá um cavalo pro cê í montado.
I cortô um pau i deu, aí eu fui correno com ele.
: [Risadas]. Feliz da vida?
: [Risos], é!
: Ah, que gostoso!
: É a vida, né?
: I cê lembra que madera que era essa? Do pau que ele cortô?
: Ah, eu acho que é aquele, Cambará-do-campo, né?