Jussara: E a turma daqui fala de...falavam que dizia que antigamente não podia andá à noite na mata...que era perigoso...essas coisas assim ou mesmo o seu pai...

João: Ah tem, um senhor, eu conversava muito com ele. Que nem te falei gosto de ficá falando e ele sentava lá no murinho da casa dele e ficava, a gente contava a história da banana, que cê ir lá meia noite, enfiá a faca fazê um pedido pra não sei o quê lá, o seu desejo vai sê realizado, aí quando você saí cê não pode olhá pra trás, porque se você olhá pra trás, você vai vê um monte de monstro, pode até morrê na hora lá. Contaram que tem muita, diz que tem muita gente que fez essas experiências, teve gente que viu bicho, teve gente que morreu, agora...aquelas historinha. Eu ouvi dele, meu pai já falou dessa história também, se você fincá a faca na bananeira e invocá lá o espírito lá e...por exemplo – quero ficá rico, me ajuda e...diz que acontece, mas...sei lá, depois de [19]91 eu já virei descrente em tudo isso daí.

Todos: Risos

Séfora: Depois que você descobriu a verdade né?

João: Depois que eu descobrí a verdade, acabou. Mas até [19]91, se você me contasse hoje, por exemplo, se eu tivesse sabido, aí...eu ia falá: ¬ é verdade memo, eu já vi assombração. E sabe o quê que era que tava amarrado na coisa? Era cabaça. Sabe quê que é cabaça? Então, eles pegaram, furaram a cabaça e puseram vela dentro da cabaça e amarram. E eu não fui mostrá hein? Então vamo pra casa, quando terminei a história, vamo pra casa, e depois foram lá, de noite, meu pai foi lá, tirou tudo, pronto no outro dia num tinha vestígio nenhum, não ficou nem os pingo da vela, porque tava dentro da cabaça.

Jussara: E o seu pai também plantava cabaça?

João: Plantava. A gente comia até verde, que aquele lá cê come né? É tipo um legume. Tipo uma batata. Plantava cabaça, maxixe, é...inhame, cará, cará...até tem um pé em casa. Nasceu, minha esposa, acho que comprou no mercado, e deve ter jogado lá nasceu. Esses dia ele...ele precisa de um lugar pra subí, e lá como é um murinho, ele subiu no muro, aí no buraco do bloco, nasceu um carazinho, e o cará ficou encravado lá, ele inchou tudo, a gente foi tenta tirá, teve que quebrá o bloco pra tirá o cará.

Séfora: Então tem algumas coisas que ainda plantando dá né?

João: Dá, dá. Cará dá, pepino, é...certos tipo que a gente tá mais acostumado, cenoura não é bom, é...beterraba não é bom, batata não é bom, batata doce nem se fala, que precisa de água né? Agora, mandioca dá bem, milho não dá, feijão não dá, arroz nem pensá [risos], e diz que tinha tudo isso aqui antigamente.