: E cê já ouviu histórias daqui, essas histórias de medo, de outro mundo...
: A gente tava conversando hoje né?
: Isso eu cresci, nasci, eu assustei meus filhos, com isso daí. No começo quando a gente veio pra cá, cê imagina: mora num barracão, aí tudo que você aprende com seus pais, cê passa pros seus filhos né? Aí fazia aquela fogueira, sabe, e começava...A minha filha, ela tá até aí pergunta pra ela, nossa eles tinham um medo! Ah te dou dez reais pro cê ir ali naquele [risos]
: risos
: Primeiro a gente assustava e depois oferecia o valor. Então assombração: era mula sem cabeça, ouvia, o curupira, né que é a história que a gente ouve, a cumadre fulozinha, saci pererê...Todas essas histórias, minha mãe contou pra mim, eu passei pra eles também [risos].
: Qual que você gostava mais?
: Do padre... Aqui no Moinho tem história do padre, sabia?
: Não.
: Tem gente que fala, é...[...] cê foi por dentro? Passou pelo campo?
: Ahã.
: Aí cê chegou numa pontinha virou, naquela rua da pontinha cê andando mais ou menos uns 200 metro do lado esquerdo, do lado direito tem uma capelinha, não se você prestou atenção, ali. Diz que tinha um padre ali quando as pessoas passavam antigamente, tipo no horário de meia noite, onze e pouco, aí o padre começava a andá atrás da pessoa. É, e por incrível que pareça essa história eu ouvi da...foi da...uma da de um senhor, é... meu cunhado, ele ouviu de outras pessoas, e inclusive até hoje minha esposa não passa ali de noite sozinha a pé. Os menino também não, nem pensá. Eu passo lá, passou de carro, passo de moto, passo de a pé. Mas eles puseram isso no psicológico deles, afetou, eles têm medo. Até os grande mesmo, a minha esposa fala que viu alguma coisa. Acho que ela guardou na mente aquela imagem e deve ter refletido na hora que cê pensou, ela pensou que viu, mas...eu num brinco muito também não porque...nunca vi. Meu pai, ah! Eu acreditava em assombração até 1991, eu nasci em [19]64, pra [19]91, são 37 né? Eu acreditava, meu pai aprontou uma peça tão grande n’mim... Eu não te falei que vendia as coisas na vila? Eu ia, mas eu tinha curiosidade, ficava jogando bola, esses negócio, chegava tarde em casa. Aí o pai ele aprontou uma negócio comigo, ele veio me contá com 37 anos, e até nisso...os outro contava história de assombração, eu falava: - ah é verdade porque eu já vi. Meu pai combinou com o amigo dele e ele fez todo o cenário, meu irmão participou da história, é...minha mãe, atém minha mãe! Minha mãe faleceu e eu não soube da verdade, contou depois da minha mãe é falecida. Minha mãe faleceu em [19]97, ele faleceu em [19]99, ah não, a minha mãe no dia que contou ela tava sim, em [19]91 que ele contou pra mim. É... foi o seguinte: - ah não chega tarde que tem assombração, tem a quaresma. Tem a história da quaresma, e ficou. E um belo dia eu tô chegando em casa, aí eu, era um trilho, a gente morava num sítio, devia ter uns 10 alqueires, você tinha que andá mais ou menos uns 500 metros numa estradinha até chegá na casa onde era embaixo. E era um caminho tinha sapé, sabe que é sapé né?