: E ele fazia instrumento? Viola? Essas coisas?
: Fazia violino.
: Fazia violino!?!
: Fazia. [risos]. Tinha um violino, era bonito que ele feiz. Fazia tudo! Ele era...não tem aquele...é, ocêis não sabem, mas tem um pinheirinho que dá no mato aqui em cima na embernada, chama-se sambaré.
: Sambaré?
: Sambaré. Então ele era tipo um pinheirinho assim, uma madeirinha mole, e dá uma batata, em baixo, aquela batata, a gente tira a batata e assava a batata e depois que ela ficava em maciazinha, a gente raspava com o canivete assim, fazia uma cola, melhor do que o super bonder. Colava o cavalete do violão e podia esticá seis corda que ele num escapava. A cola que Deus me acude. Sambaré chamava. Ele saía, catá lá no mato pra fazê. E hoje deve tê por aqui.
: Tem alguma coisa do seu pai aí?
: Ah...acabou tudo...Ele tava ficando ruim pra morrê, a turma foi que nem formiga, tirou tudo as coisa dele. Ele tinha fole, não era ventarola, agora que tem motor, liga o botão lá ela sobe. Naquele tempo era puxado Pá, pá, pá, puxando aqui, o fole abria, abria, assim, depois ia baixando assim, ia assoprando lá. Tudo na mão. Eu era o que puxava o fole no meio das ferramenta. Chegava aqui na oficina aqui, quatro horas da manhã tava tudo escuro, saía daqui escuro, num vencia serviço, dia e noite trabalhando.
: E o violino ele fazia com qual madeira? O violino mesmo a...
: Ah, era sempre a madeira mais velha que ele achava pra fazê a, os violino, quanto mais velha a madeira, mais som ele dava. É madeira que ele usava é a jacarandá preta, a canela, mais sempre madeira velha, que ele aparelhava pra fazê o violino.
: E ele que saía pra pegá madeira, escolhê?
: É pegava do mato, e depois isso aí, fez o violino, ele deixou aí, começava com outra coisa. Trabalhava.
: E o senhor aprendeu a fazê violino?
: Não, o violino não foi do meu tempo, o violino foi antes de mim. Foi antes quando eu trabalhava com ele, ele não fazia mais isso, só tocava ferramenta. Ferramenta aprendi a fazê tudo. Até temperá ferramenta. Pra temperá ferramenta deve tê trêis cor: em branca, amarela e azul. Conforme a potência do aço é a cor da tempo que tem que temperá. Quando o aço é fraco, deixa branca, [...] que fala. Quando ele é meio forte, deixa amarela, e quando ela é bem forte deixa azul, vai vortando a [...] vai azulando. É...muito bonito, mais eu não interessei com isso aí. Aprendi a fazê isso aí senão não aprendia fazê nada [risadas].