: Caía.
: Caía [risadas]. Esborrachava no chão. Depois aprendia a fazê o freio do carro.
: Ah, freio!?!
: Depois que fizemo o freio daí acabou, daí num caía mais. A já quando chegava embaixo aqui, que ele dava oitenta por hora, puxava o freio. O freio travava a roda. Daí num tinha perigo de caí mais. Mais era...nossa pai do céu! Tinha uma roda, de carroça, que as carroça tem um ferro envolta da roda, aquele ferro saiu e nóis pegava essa roda e saía brincá. A roda dessa grossura de ferro, e aqui era um morrão pros dois lado, era barranco dos dois lado, nói pegava e furava o barranco e enfiava um bambu de cada distância fechava a estrada, de cada distância. Depois vinha lá de cima empurrando a roda, mais vinha e antes de chegá no primeiro, no primeiro guatambu nóis atravessava num pau no chão e a roda ia cantando que tanto embalava, daí nóis parava que era descida abaixo e ela vinha correndo batia aqui pulava por cima, batia aqui, pulava por cima, [risadas] aquilo pra nóis era a festa! - Vou ficá aqui embaixo pra cercá a roda no meio do mato [risadas]. Isso era a molecada daquele tempo, tinha muito menino. Quando na escola eu estudei, nóis estudava em 50 menino, 25 de manhã e 25 a tarde, era muita criança. Agora a represa tirou meio município, tinha muita gente, que a represa tirou tudo. Resta mais praticamente só o povo véio daqui, o novo foram tudo embora. Nossa, tinha gente que Deus me acuda.
: Diminuiu então bastante morador.
: Nossa! Diminuiu metade do povo. A represa começou a ví em [19]75, [19]75 já tava pra lá trabalhando, aí o encarregado lá do SAAE falou vai tê a maior represa da América do Sul aqui em Nazaré. Era tudo brejão aí, só tinha o rio que corria, falei pro meu pai, meu pai duvidou mais não falou nada, em pouquinho tempo veio a turma fazê a represa, roçaram tudo, limparam, e fizeram a represa, acabou com o povo...Ainda tinha uma véia, a preta véia embaixo, mais aquela preta, ela era tia da minha mãe, preta que nem jabuticaba, daí ela ia comê feijoada, ela tinha que por uma luva branca pra não mordê o dedo que tanto era preta sabe? [risada] E ela não queria sair da casinha dela embaixo na beira da represa e o marco da represa passava na casinha dela pra cima. Daí o meu pai pegou e construiu a casa pra ela aqui em cima e foi lá e na hora que ela saiu de casa, meu pai derrubou a casinha dela. Daí ela veio morá aqui em cima. Aí um dia tava num sol quente, mas tava um céu azul, nós viemo de Guarulhos, viemo pela Dom Pedro e ela tava preparando a mala dela: - deixa eu ir embora porque faiz muito tempo que eu tô aqui. Pegou a mala pois na cabeça, pegou o porretinho e saiu pra ir na casa dela lá embaixo. [...] não tem mais casa. Daí, acho que uma hora, uma hora e pouco ela vortou, cansada... ¬Daí falamo: - não foi embora? Ela falou: - Ir embora de que jeito a mardita enchente não acaba [risos].