: Canharanda?
: É. Ela dava uma fruta igualzinho, igualzinho o...jabuticaba? A pontona vermelha, só que ninguém come, ela é amarrante. Sabe o que é ité?
: Não.
: É, amarra a boca da gente, fica ité. Depois fica piá não dá pra comê não. Sabe[? – 00:36:58] o leite? Então isso é, da canharanda.
: E tinha alguma que tem um cheiro gostoso?
: Ah isso é o Jatobá que tinha o cheiro gostoso. Jatobá cheirava...pra chuchu. Mais...tem uma árvore de Jatobá, já tá com fruto já. Indo pro bar. Só que ela é pequena. Tem umas frutona grande. Ela mês de dezembro é o tempo que ela amadura. Dezembro, janeiro, tempo dela tá caindo.
: E aí quando ela cai é quando ela cheira mais ou não?
: É quando ela cai tá madura. Ela fica preta, marrom, ela cai. Daí ela cai a gente quebra ela e manda pro peito [risadas].
: E a turma contava muita história de medo?
: Ah você alembrou...pra você fazê essa pesquisa, é só no nosso sitinho: pra lá tem um zumbi, se ocê for pra lá, você não vorta mais.
: Nossa!
: É cê não acha o caminho pra vortá mais.
: É mesmo?
: Cê se perde. Do nosso sítio pra cá tudo bem. Mais pra lá, nem adianta ir porque chega lá cê perde. Perde não volta mais.
: Por que será?
: É um zumbi que tem lá. Cê entra, não sei se você conhece uma capelinha tem lá em cima, já foi lá ou não?
: Não
: Cê chega na capelinha lá tem uma estrada, desce pra baixo, chama-se Água Fria, o cara foi tirá cipó lá, entrou lá começou a tirá cipó não conseguiu vortá mais. Ele veio saí aqui na nossa divisa aqui. Rasgou o mato inteirinho, não sabia onde tava, pra ele tava saindo, tava entrando no mato. Ali é perigoso. Ali perto da Água Fria, vai saí lá no barzinho do Joel lá embaixo. Ali tudo é perigoso. Mai aqui não. Tudo tranquilo.
: Aqui é tranquilo?
: É.
: E esse zumbi aí, de onde surgiu será?
: Esse aí, diz do tempo do meu pai, os veiarada, eles faziam pinga, e antigamente, as mulheres e os homens não compravam roupa feita, comprava o tecido, e molhava e depois secava ...pra não afrouxá, quando a pessoa compra a roupa, depois lava às vezes ela encolhe sabe? Então pra evitá isso, eles molhavam a roupa antes de fazê, comprava o corte, molhava, e depois fazia. Eles compravam o corte, deixava no varal pra secá, quando ia vê soltava um borrão, o bicho chegava lá e queimava. Ele iam fazê farinha, deixava o mijolo socando sozinho, depois tava cheio de terra, o bicho ia lá, jogava terra. Eles faziam pinga, e guardava no cartola, quando ia vê a cartola tava no chão, pum pum pum pum. Derrubando toda a pinga. Aí a véia falou: - ah nói vamo embora daqui, porque nóis num guenta. O negócio falando contra a parede. – Durante a sua vida, onde cêis for nóis acompanha. E tinha uma tar de Lica, a Lica era o instrumento do zumbi, tava todo mundo trabalhando e o bicho chegava ali pegava a Lica e tirava, levava no meio do mato, depois falava tanta coisera pro meio do mato e daí sem a turma percebê, ela vortava no meio dele. Daí falava pro véio, que é o dono da casa que o bicho pedia pra fazê uma reza, isso, isso, rezá pro fulano, que ele tava acabando com tudo que tinha. Que fazia essas missa, essa reza pro antigo que tinha morrido, depois quando foi um dia, ele falou pra Lica, que falasse pra fazê uma reza pra fulano de tal, depois deixasse um quarto, uma vela virge, uma caixa de fósforo virge, um papel virge, um lápis, ele ia rescrevê o que queria. Aí fizeram. Chegou aqui a vela tava quase acabando, tava bem pertinho de terminá, bem quietinho, papel tava tudo riscado, ninguém entendeu. Daí ele num tentou mais, começou a matá a turma. Matou acho que umas seis pessoa aí, em cima aí. Matou o tio do meu pai, [...] uma fogueira de toco de madeira, só cabia ele, deitô de costa e ali mesmo morreu. Saiu o miolo pelo ouvido, a língua pra fora, eu vi, eu era criança, fui lá vê ele. Eu num conheci ele, e o tar de Barcelona, ele morreu lá, pegaram o Barcelona enfiaram a cabeça dele na grade aqui da ponte aqui, deixou na água o corpo pra cá, como é que pode uma coisa dessa? O...um outro moço foi pegá animal não vortou mais, foi vê tava sentado com a cabeça amarrada no pescoço. Depois outra pessoa comprou o sítio aí e agora, esses tempo atrais o bicho chegava pegava a vaca dele [...] com a faca e puxava. Tirava, deixava só...a carne. Manhã cedo a vaca puf, puf, puf, puf, o couro do rabo tinha tirado. Ir pra lá não adianta ir, que pra lá...