: E o senhor andava desde pequeno?
: Nossa Pai do céu desde criança. Sabe o que nóis fazia de primeiro? [risos]. Dia de sábado, nóis ia num barreiro, ali num engenho que o meu pai tinha ali, tirava aquela argila, fazia aqueles pelote de barro, bem feitinho, sábado a tarde, e colocava lá uma folha de lata em cima das pedra, e fazia fogo embaixo, colocava aquele pelote em cima, e assava tudo, deixava bem assado, pra outro dia cedo, domingo cedo, saí caçá com estilingue. Aí de domingo cedo, começava a reuní as molecada, lá pra saí caçá. Caçá pra comê. E sabe como que era a nossa comunicação? Pra subí aqui em cima, era quatro daqui: eu e mais trêis irmão. Nóis subia aqui em cima aqui, um frio! Mais um frio que os pé deles tava tudo rachado de frio, a noite não passava de jeito nenhum porque tava sedendo pro dia ir caçá. Só escutava o casal de véio roncando, quando chegava de madrugada escutava os passarinho falando [assobia] nóis pulava tudo da cama, aí...Não é que nem agora que aperta o pito do fogão, acende, tinha que quebrá pauzinho e por ali, quase uma hora pra esquentá o cafezinho pra tomá. Dia, tava dando pra clareá o dia, domingo, frio...e um gelo! Pegava o saquinho de pelote com estilingue e saía pra reuní com a molecada pra saí caçá. Cercá os passarinho que nóis aprontava. Nóis chegava aqui em cima, do outro lado morava lá mais dois colega, ele falava assim: - Tego, tego, urego tego... negocio de comunicação. E eu respondia lá embaixo: - Da noite que gira [risadas]. Daí começava a reuní as molecada. Daí molecada, era oito horas, oito e pouca, nóis saía caçá. É pelotada de lá, é pelotada de cá, e cerca os passarinho, coitado do passarinho. Quando acertava, ah um tinha ciúme do outro porque acertô, matou tudo. [risadas]. Ele queria, ele queria, matá. Era desse jeito a nossa vida. Enchia capauá, saquinho de passarinho. Depois vinha em casa, dava tudo, depenava tudo ele, abria, tirava o [...] dele, minha mãe fritava, e aí passava pro peito. Todo domingo. Só ia depois, esse era no tempo de molecada, depois teve o tempo de espingarda. Doze ano em diante começava a caçá com espingarda, era perigoso lá...e do outro lado era fácil porque matava menos. Isso aí saía com a espingarda, caçá com a espingarda nesse tempo. Mais nóis matava muito passarinho, nosso Deuzão! Saia da envernada, aqueles bando de tico-tico, ia fechava e matava. Um dia eu matei aqui no tapera velha aqui, passei a tarde, sábado a tarde, vindo de lá pra cá, eu vi um pé de figueira na beira do mato, enxergando um sabiá, vermelho. Sabe o que que eu fiz? Eu vi aquilo, lavei a espingarda, arrumei bem arrumadinho, preparei os preparo pra munição, e vortei lá, sábado a tarde fiz uma paioça, embaixo do pé de figueira e outro dia, antes de clareá o dia, já peguei a espingarda e fui lá, entrei embaixo dos buraquinho em cima assim e no que ela ia dá de clareá o dia, começou a chegá sabiá pra comê a figueira e eu pá matei doze. Onze sabiá vermelho, um bem-te-vi, treze, e um sabiá do canto. [...] Chega aí, minha mãe senta no beira do barranco lá e despena tudo e abre, limpa tudo pra fazê mistura pra comê. A situação era precária, era triste. Mais era [risadas] do tempo, o tempo, agora não, agora tá... tranquilo.