: E antigamente assim usava é madeira de mato assim pra construir, fazer monjolo?
: Era tudo de mato. Era... tinha o tar de...como é que é? Jacarandá que era madeira muito forte e aqui parece que eu nem vejo mais, isso aí que cortava fazê mijolo, fazê aquele negócio de moenda. Mais nesse uns 50, 60 anos atrais.
: E a senhora trabalhou no monjolo.
: De fazê farinha, eu trabaiei bastante. Com 12 ano minha mãe já... debuiava no milho, levava o mijolo socá, [...] ponhava na água, tinha que ponhá no de a par forrado com caetê, depoi ficava ali uns trêis, quatro noite, quando o milho tava seco. Ficava até oito dia no meio da água, aí depois tirava, lavava no balaio, escorria tudo a água, daí com o mijolo socá, passá na peneira de arame, pra daí ponhá no forno.
: E ficava quanto tempo no forno?
: Tinha que ficá oiando porque senão queimava né?
: Até dá o ponto pra tirá...
: Eu até hoje eu ainda faço. Agora mesmo a mandioca tá verde, mais eu aprendi a fazê farinha de mandioca... Eu faço farinha de mandioca.
: Que legal.
: Aprendi a fazê açúcar, melado, farinha de milho, aprendi tudo. Com doze ano até defunto lavava já. Era meio perdidão [risos]. Montava em animal brabo, o pai tinha crião, o meu era bem de vida sabe? Tinha um monte de crião de animar, de égua, de cria. E ele gostava de uma pinga, aí ele ia na cidade, vortava já vortava de fogo, aí eu já corria: - pai eu posso sortá a égua no pasto? - Espera comê o mio primeiro. Ele era brabo né? Aí quando tava amarrado aí no pau assim, quando acabava de comê, eu ia puxando quando achava, tinha aqueles cupinzão sabe? Eu era pequeno, num era muito pequeno, tinha uns treze, quatorze ano já, eu puxava de a par aqui assim sartava no lombo e metia o pau no animar e ficava galopeando até quando a égua tava [...], aí demorava, demorava, nem pousava na casa do pai num ia, porque se eu fosse, desconfiavam que eu tava fazendo daninheza, e eu ia na casa da minha tia que era irmã da mãe pra mim pousá lá. E um dia sabe o que aconteceu? A égua tava muito cansada, e eu meti o pau. Aí num sei o quê que deu na minha cabeça, aquelas porteira era de vara que nem o meu assim, só que quando cê ia passa assim, você empurrava aquelas vara pra lá, depois pra fechá, puxava pra cá. Eu abri trêis vara e deixei dois em cima. E meti o pau no animal e o animal pegou e... Imagina se ia passa na minha cabeça. Prendeu e correu assim pra... eu arquei assim, a vara correu aqui. Eu tenho dois costela quebrada. Quando eu caí, foi tirá raio - x, tem um pelotão na costela assim. E sarou na casa. Cê vê que de machucadura num vô morrê nunca. Nossa... quando eu ia comê assim, saía sangue da boca, sangue da costela. E quando eu caí do barranco foi tirado a chapa, machucou a cabeça, ficou assim aqueles caroço, mas num quebrou nada, só que aqui tinha aqueles pelote que sortou da costela.