: E o quê que mais tinha aqui na região de plantação?
: Era feijão, milho... tudo. Todo mundo tinha de sobeja [de sobra]. Paiol de milho. Aqui na’onde tem aquele ranchinho que faiz comida ali, nóis tinha o paiolzinho, lotava de milho. Fazia farinha...
: Dona Inês, e se fosse pra...Se alguém perguntasse assim pra gente: - ah quem que é a Dona Inês que cêis tanto falam? Como que a senhora gostaria que a gente falasse da senhora pra essas pessoas que não conhece?
: Aí cê fala: - é uma véia lá [risos] já tá passando a hora de [...]
: Ah, não tá nada. O quê que é isso? [risos]
: Que faz um monte de coisa aqui né?
: Fala a verdade: o que a gente faiz, muito não faiz mesmo né? Porque ói, tem esses novo num sabe fazê um melado, eu...agora memo tem umas cana pra fazê, eu faço melado, depois vou mostrá pro cê ali, açúcar de cana, melado, rapadura. Tem uma mulher lá de São Paulo, uma japonesa, ele compra rapadura, melado, pra temperá peru! E ele tem tanto vendedô, e ele compra meu. Ele qué uma rapadura mole, mais como que eu vou fazê rapadura mole? Diz que a filha dela, uma japonesa, quer uma rapadura mole. Agora essa sumana, não sei se antes da festa poderá fazer...porque a gente tá corrido sabe? Mai...eu falo a verdade...meu nome é uma pessoa...quando eu saio, dá até vergonha, eu sou uma pessoa...num sou uma pessoa rico, não sou uma pessoa bonito, mais o que é certo é certo: tudo mundo gosta de mim. Eu chego na cidade: - ô mai faiz tempo que eu num via mais você. Todo mundo conhece. Eu vou lá na Espanha lá, ontem nóis fomo em Perdões, chega lá o homem do mercado dá o microfone pra mim falá se o supermercado é bão, quantas veiz que eu fui lá...
: Gente... no microfone?
: No microfone. Eu falo. A Ivete ficou bobo. Falou: - nossa a mãe parece uma caipira, e...põe [...] até ne mim. Porque ela vai lê assim na Igreja fica tremendo. Aí eu tenho dois prato, que ele deu o prato pra mim de brinde. Dois pratos rasinho.
: E a senhora fala lá no microfone na tranquilidade?
: Tranquilidade.
: risos
: Então. Aí no dia que foi noivado da filha meu, nossa lá teve gente grosso, gente rico né? Aí eu...parece que deu uma vontade, um vício né? De falá sobre a vida dela, como que queria estudá num podia, porque num tinha dinheiro, depois foi passando, ele queria muito fazê a faculdade, num...num dava né? Aí ele falou: - pai eu queria tanto fazê. O meu marido era trabaiadô sabe? Desde que nasceu a vida era trabaiá, cresceu pondo [...] a casa dos outro. Aí ele falou: - ói o único que eu posso comprá pro cê é um fusca que é o mais barato pro cê ir estudá. Ela falou: - não é nada, Deus vai me ajudá que eu vô comprá um...pegá um serviço, pra mim ganhá, pra mim podê estudá, fazê uma faculdade. Aí entrou o João Luz, deu uma força, contando como é que era, aí ela entrou na aula e desde o primeiro, nunca repetiu. E nem na faculdade não repetiu também. Aí eu...deu vontade no dia do noivado dele, de falá como que foi a vida dela, nossa mais o povo gostaram! Em Itatiba [cidade em que a filha mora], até agora, o meu genro veio no domingo tá bravo: - por que que você não vai lá dá um discurso lá? Eu falei: - ih agora é tempo de política é tempo memo de... O meu genro, o marido da Jane, diz que vai ser vereador: - eu vô fazê ocê subí no palanque pro cê dá força pra mim. Não abuse que pinga num bebo, mas se esquentá a cabeça, eu subo lá mesmo.