: Era gostoso. Eu gostava muito do serviço.
: Mexia na terra...
: Uma que eu não fazia era só picá lenha. Eu trabaiava com burro, trabaiava com carvão, o carvão falo a verdade, carvão não era coisa boa não. É bom pro cê assá carne, mai o que eu trabaiei de carvão...quando eu morava pra lá, fechava o forno hoje, aquela bendita fumaça, e amanhã só cinco hora o patrão falava: - ói precisa de tanto saco de carvão amanhã. Que nem eu tava falando pro moço ali, trêis horas da manhã nói tava abrindo o forno, pra tirá, puxava com a rastela [...], quando era daqui a pouco vermeiava metade do forno de carvão. Porque o carvão, um pedacinho já [...]. E o carvão num leva riqueza pra ninguém.
: Como que era o carvão, tirava as coisas da mata, as árvores?
: É. Cortava o pau, daí fazia o forno de tijolo, argum era de terra memo, furava o barranco, e fazia daí. Mai o carvão não dá lucro nenhum.
: Só o carvão que a senhora não...
: É esse eu fiz bastante porque eu precisava naquele tempo. Mais hoje em dia se dizê ocê qué fazê? Ói, nem de graça eu num faço. Inda depois que eu falei que num fazia, ainda eu fiz carvãozinho aqui, que era uns pau de lenha pra assá carne só. Mais pra ganhá, nunca mais viu? É num dá. Nói fazia de lenha de mato naquele tempo né? Depois virou de fazê de eucalipto. Se fô fazê, eu sei tudo acendê o forno, enchê o forno de lenha, eu sei tudo, mas só que eu num quero mais não.
: E dona Inês senhora falou que a senhora gosta né da natureza, dos bichos...
: Nossa...pra mim vê assim que chegá assim o mais que eu gosto é vê...é vê planta, é vê árvore, tudo. Tudo essa planta pra mim eu fico...
: E antigamente, qual o tipo de árvore assim que tinha mais antes que hoje, que a senhora não vê? Que a senhora lembra que antigamente tinha e que hoje já é mais difícil?
: Dentro do mato que você fala ou de planta de fruta?
: De fruta ou do mato assim...
: Antigamente quase não tinha pro mato, mai cada casa que tinha, minha mãe memo tinha laranjeira, de tudo tinha, lima, limão, limão de vária qualidade, lima, tinha uma lima que era chamada “lima de lavá defunto”, que lavava com a folha, é a tar lima imbiguda que a turma dizia. A folha era um perfume, sabe aquele eucalipto cheiroso? Eu nunca mais vi essa lima, ela dava grandona, nói comia ela, doce, mai era grandão, tinha um imbigão assim, era lima de lavá defunto, a turma falava. A minha mãe tinha um pé. Mai tudo a casa que ocê chegasse assim, um quintalzão grande assim era tudo cheio: pé de jabuticaba, limão de vária qualidade, laranja branca, laranja... mixerica, aquela cheirosinho, depois que começou vir a pokã, essa laranja pêra, ela era comum. Tudo a casa tinha. Bananeira...