: [...] Dona Ignês, antes da gente continuar as histórias... Qual é o seu nome completo?
: Meu nome é meio difícil... O meu nome memo é Ignês Nazaré de Paula. E a turma me chama de Inês, outros chamam de Neis, Dona Maria... Mais o nome mesmo é...
: Ignês.
: É. Então se tivesse o meu documento aqui eu mostrava pro cê, é...tudo é...
: E a senhora tem quantos anos?
: Olha eu tô com 69. Eu sou de [19]42. Acho que é 69.
: E a senhora nasceu onde?
: Nasci lá no Sertãozinho, lá no Ribeirão Acima que a turma fala.
: Nazaré [Paulista]?
: É, distrito de Nazaré mais é pra lá.
: E a senhora veio pra cá com quantos anos?
: Óia eu não me alembro bem, mais já era... acho que tinha uns...quase uns cinquenta e pouco ano. Porque já faiz... Acho que faiz quarenta ano que nóis tamo aqui.
: Quarenta anos que a senhora...
: Quarenta anos que nóis viemo. Daí nóis moremo no... Só aqui faiz quarenta e nóis moremo dois ano aqui pra frente ali... Quarenta e dois mais ou menos.
: Tá... E a senhora trabalhava, trabalha com... Qual que é assim o seu trabalho, sua profissão?
: Então era lavradora né? Fazia planta. Lá quando nóis morava...Depois quando nóis mudemo aqui, plantava feijão, milho, arroz. Tudo quanto era planta né? E fazia carvão, vendia carvão.
: Mas era aqui mesmo [propriedade de D. Ignês] ou era em outro lugar?
: Não era...trabalhava de meia assim pros outros assim.
: Ah tá.
: Com o cumpadre [...] nóis plantava muito feijão só. Feijão nóis chegava a colhê trinta, quarenta saco de feijão. Trator que maiava, que daí tinha uma [...] que trabaiava que é esse casado, a outra [...] plantava com máquina de feijão sabe? Com aquela máquina de plantá. Aquele morro onde tá arado lá nói enfia tudo aquilo lá de feijão. Mai colhia tanto feijão, que chegou a perdê. Sabe quanto nóis vendia um saco de feijão? Quatorze reais, quinze mirréis. Pra num perdê. E aí veio um homem de...diz que ele era do supermercado de Jacareí [município do Vale do Paraíba], e dando cheque...todo mundo que vendeu e deu o cheque, perdeu tudo. Porque deu o cheque sem fundo. E daí num tinha o endereço do homem...carregou o caminhão e foi embora. E o meu, nóis guardava no quarto da escola ali. Ali o saqueiro de feijão meu, eu vendi tudo a quatorze, daí ele via que a gente era pobre, precisava, mas era outro compradô, daí ele falou assim: - eu vô dá um cheque. Eu falei: - não, se for vendê cheque, pra mim vendê e recebê em cheque, a gente num tem carro, tem que ir recebê no banco, e tinha só banco Itaú ainda. Aí eu falei: - aqui em Nazaré não tem esse banco, era Caixa que tinha em Nazaré, eu falei: - se não for no dinheiro... Ele falou: - então deixa, num vende e eu vorto aqui a dez dia. Aí vortou e pagou quatorze reais, carioquinha branquinho. Nóis plantava bico de ouro, feijão roxinho, o que tivesse na frente plantava.