: Por que será do galo cantá...
: Porque dizem que o galo é abençoado né? Aí o galo cantava e tudo acendia a luz. A minha mãe contava, a minha tia contava, que acendia a luz e dava Graças a Deus que o galo cantou, agora vai embora. Num dormia porque tinha medo dele arrebentá a porta e entrá né?
: E tinha alguma coisa que afastava eles assim? Que a turma fazia?
: Ah rezava, tinha hora que ia embora, tem hora que a lua cheia ataca né? Aí eu tinha medo daquele lá. Dá medo né?
: E tinha alguma planta do mato que usava assim pra afastá?
: Não, é só rezava oração mesmo.
: E a senhora dona Inês chegava a andá no meio do mato, na floresta?
: De dia nóis andava.
: Só de dia?
: Eu gostava de andá no mato. A mãe ia buscá taquara no matão. Uma vez a mãe cortou uma taquara assim, a minha filha, a mãe tava junto, a minha filha deu uma foiçada na taquara, tem que sê taquara grande sabe? Aí o de fazê balaio é aquele que não tem folha, que cata com as pontona mole. Deu uma foiçada assim, oiou em cima, o que gemeu, olhou puta onça aquela pintadona na...no matelo, matão virgem. Até a foice deixou de medo. Depois passado um tempo, que foi lá buscá a foice. E lá tinha mesmo, aquela onça pintada, aquele que passa na televisão.
: Nossa, onça pintada!?!
: É. Pintada lá. Ainda tem o resquício desse matão lá na, nesse cumpadre meu. Tem umas taquara bão de fazê lá. De fazê balaio, de fazê bambu.
: E a senhora falou que de noite não, que dava medo?
: Ah...de noite dá medo não? Porque o matão era longe da casa né?
: E a turma falava que no meio do mato tinha muita assombração?
: É, a turma falava que tinha lugar que via as coisas. O meu marido chegou a vê uma veiz é....foi buscá remédio pra uma pessoa que tava doente, morrendo de dor, aí o cavalo muito bom que nóis tinha e diz que chegou no meio das [...]: - num passa lá depois da meia noite que vê assombração, vê um caixão pro meio do caminho. E ele viu memo. Ele chegou em casa, que quando ocê vê uma assombração, ocê... ocê chega ali a...ocê vê a luz ocê cai. Ele chegou em casa desceu do cavalo, quando entrou dentro , aí num tinha essa luz? Eu ascendi a luz pra vê, quando ascendi ele caiu de bruço no chão. Eu disse: - o quê que aconteceu? Ele disse: - amanhã eu conto. Depois deitô, cobriu a cabeça. Outro dia contou que quando ele viu aquela puta defuntão deitado, era aqui nesse meio da banda do Divininho [bairro] que agora é pista, sabe que era estrada véia, onde tinha mato, ele meteu a vara no cavalo, o cavalo sartou por cima, diz que por pouco.... Daí chegô na casa do benzedô, o benzedô a roupa e disse: - não abusa. Porque...não, ele já vinha vortando nessa hora, daí falou: - num abusa, que lá tem lugar assombrado. Ele falou: - mas como que eu vô fazê? Eu preciso passá. Passou mai ali tem mato memo que tinha que passá. E muito lugar que eu acho que é assombração, é vento memo. É porque muito....sei lá, abusá num pode né? Mai é...às vezes a gente fica com tanto medo...