: E já tentaram proibir assim as festas em algum momento, alguma época já falaram: - ah não é mais pra fazê festa?
: É, [...] diz que tem pra lá, que eles iam fazê festa e outro que sempre faziam festa, que eu vou muito pra Aparecida, dia seis de maio eu vô pra Aparecida, a gente...ocêis são religioso também né?
: ahã
: A gente confessa, conta, explica as coisas, você vai fazê festa, tem que largá pro povo comê. Ói aqui vai tê um bolo, mais ou menos umas deiz, doze forma de bolo, eu já tô acho com...acho que uns vinte quilo de trigo [...]. Aí a Dona Maria deu cinco quilo, ela quis trazê, deu cinco, e a outra filha meu que mora em Perdões [Bom Jesus dos Perdões] deu cinco e eu comprei sete ou oito quilo. Tem um monte de trigo ali pra fazê, doce de leite tá comprado, aquele coco pra ponhá no bolo, então, ocê não pode miseravá nada. O pecado, ele falou, é ocê ponhá uma vasilha de bolacha e eu repará se ocê come dois e ele come trêis. Tem que largá que coma, se acabá, acabou. E o pior é que não acaba. Aqui quando chega gente, que chega tarde, ali das duas hora pra tarde, todo mundo traiz vasilha, o ano passado roubaram a vasilha meu, roubaram a valer a vasilha que eu ganhei do pessoal de Itatiba, aquela vasilha de plástico duro sabe? Plástico bão. No dia do aniversário meu, a turma catava pra levá feijoada, levá macarrão, aquele arroz...vai fazê o quê? Na hora que deu raiva, mas daí depois passou. E tem que largá pro povo comê né? Porque aí pra lá, faziam festa pra Santo Antônio, vinha ônibus de São Paulo, mai vinha tanto...Aí eles pegavam, faziam programa, sabe que você faz o programa, que nem o padre falou, ali põe no rádio, noticia, tudo mundo sabe né? Aí vinha gente, mais [...]. Você acredita, agora tem pouquinha laranja, e o ano passado o pé de laranja tava arcado, amarelando, ninguém buliu com a laranja. [...]. Tá na mão de Deus ali. Ninguém não mexe. E chega lá, a turma pergunta pra mim: - me diga uma coisa, se argum pedir comida posso dá? Eu digo: - ói, o pessoar armoçou, todo mundo armoçou, quem quisé levá que leve. Pior é ficá jogando fora né? Mai, eu acho que essa festa...num sei quando eu morrê, se os outros vão fazê, mai enquanto for vivo num posso pará, porque virou uma tradição já né?
: É uma tradição do bairro, da cidade né?
: E os seus filhos ajudam a senhora?
: Ajuda. Ajuda no modo de dizê assim...pra...pra convidá gente. Eu falo: - Luzia você convidô gente? – Ah esqueci. O que convida pra mim é o meu cumpadre João, mais ajudá em serviço ajuda.