: E a senhora foi... nasceu na roça?
: Foi, nasci na roça. Eu faço de tudo, fazia de tudo. Eu faço café, eu faço sabão, eu faço açúcar, melado, rapadura. De tudo que eu faço. A minha mãe me ensinou né? Fazê farinha...Eu faço de tudo. Fazia quando...tem um cilindrinho aí que o Ernesto comprou. Uma veiz inventei de fazê açúcar, eu fiz açúcar. É gostoso, [...], agora a saúde não dá mais... Quando chega num certo ponto não dá mais jeito de fazer as coisas. Matava porco, com o pai lidava, entregava boi, aguentava tudo: matava, limpava e botava pra vendê. É...eu e minha irmã, tudo fazia. Esses negócio de planta, tudo nóis fazia, plantava as coisa, fazê horta, fazia tudo. E...era assim, a minha mãe junto, da roça também, sempre criada na roça. Ela fazia de tudo também. Então, ela levava nóis.
: E cêis brincavam nas árvores?
: Eu brincava nas árvore.
: É? Que brincadeira que fazia?
: Tinha a árvore de guatambu. E ele era grandão. Nóis pegava na ponta daquele pau lá e puxava até chegar na terra, nóis pegava assim e sortava né. Então ele ia para lá no fundo e vortava. A bagunça nossa era essa aí. Meu pai ficava: ai se esse negócio caí aí debaixo. Nóis ficava assim, brincando.Num tinha com o que brincá. Tinha que brincá na árvore mesmo. A gente brincava de esconde-esconde, escondia no meio do mato, era assim, peteca, era isso aí, pular corda.
: Como é que fazia a peteca?
: A peteca a gente fazia assim, a mãe pegava a malinha assim de pano, um pedaço de pano. Nóis enchia de areia dentro, aí pegava duas pena de galinha, colocava, um pra lá, um pra cá, amarrava e a peteca da gente era esse, de pano, pedacinho de pano. É...boneca memo a gente fazia de sabugo, juntava assim, ponhava uma toquinha, amarrava. Era a boneca nossa. Num tinha naquele tempo boneca, então fazia boneca de sabugo.
: E qual que era a árvore mesmo que a senhora gostava de brincar?
: Era guatambu. Não é que nóis puxava, ela verga sabe? Desce até no chão. Cê pega com a ponta assim, ela vem. Ela entorta, é molinha, solta ela, dá aquela tranco leva ocê lá e trais (risos).Era assim que nóis fazia.
: E fazia balança?
: Fazia balança, de corda numa árvore, botava a corda lá e balançava. O pai ficava bravo com a corda que nóis pegava de cipó. O cipó não durava muito né? Porque é bastante, era quatro criança pra brincá, irmã né mais novo. Aí cortava o cipó. Aí nói aprendemo a jogá a corda no mato, quando cortava a corda. Porque o meu pai batia em nóis, ele era bravo. Mais a gente fazia balanço de corda. Aí trabaiava também né? Só o tempo que nói tava parado, a maioria trabaiava no cabo de enxada, com sete ano, trabaiando, amansando burro brabo, lidando com as vaca. Fazendo parto de vaca, cabrito, que nascia, nói tinha que fazê parto de cabrito, o pai mandava nóis fazê, a criançada: - entra lá ocê no mangueiro e faiz, que eu vô ensiná ocê a fazê. E nóis fazia. E nóis fazia o parto deles: eu minha mãe e o outra irmã.