: bruxa...
: Ela vinha em casa. A mãe tinha criação, ela vinha em casa. A mãe morria de medo dela, todo mundo sabia que ela era bruxa. Ela atentava todo mundo. Ela tinha uma filhona grandona, um filho, uma filha e ela vinha, era bruxa. Mulher era ruim, ruim memo. A mãe ganhava neném lá, a mãe fechava...o pai ficava na porta lá, trancava bem trancado. Ela vinha porque queria entrá na casa vê neném. A mãe: - não, vai. A mãe deixava até tesoura sabe? Pegava a tesoura, abria a tesoura, deixava a tesoura embaixo da cama aberta assim, que é simpatia né, pra ela não entrá. E ela queria porque queria entrá. É só a mãe ganhá neném, ela não se dava com nóis não, era de mal com nóis. Mas quando a mãe tinha neném, ela vinha. E a mãe morria de medo, a mãe até ia na casa da comadre, da minha tia, e ficava até passá sete dia. Porque era nos sete dia ela vinha, depois dos sete dia ela num vinha mais não. Até os sete dia ela vinha vê a criança. A mãe tinha medo né, de pegá a criança. E ela era bruxa. Eu conheci ela bruxa memo. Ela vinha memo, queria entrá, brigava, batia em nóis, sabe? Ela não gostava de nóis. As molecada, não gostava de nóis. Ela batia na gente. E a mãe tinha medo de pegá a criança. E agora depois que teve essa religião de crente acabou, graças a Deus num tem mais. Isso com a igreja de crente agora não tem mais. Mas de primeiro tinha sempre. Ah, eu quantas vezes não morria de medo...Saci...
: Saci !?!
: Tinha.
: Hum! Mais a senhora já viu?
: Ah eu tava [...], eu ia buscá a vaca, lá em...tinha um morro assim, que tinha que subí né? Tem um barranquinho. Tava chorando na beira da estrada, uma criancinha...Eu falei: - que mãe que jogô essa criança? Eu, com quatorze anos, falei: - que mãe que jogou essa criança, vou levá pra casa. Aí fui indo, fui buscá a vaca, na hora que eu vortá eu levo né? A criancinha choraninho... batendo a perninha... na beira do barranco. Bem moreninho. Falei: - vou levá né? Capaiz de ser de algum colono nosso aqui que pôis a criança aqui. Aí eu perguntei pra Izabé: - vi uma criança berrando na beira do barranco. Cêis não deixaram não né? - Não, não vai pegá! Não vai pegá não aqui ninguém teve criança não. Não vai pegá não Nazaré, não vai levá não. Aí cê vai levá, você vai ver só, o que vai acontê. Isso aí não é coisa do mundo não...não vai levá não! Eu montei no cavalo e ele berrando, [...], toquei as vaca lá, saiu tudo correndo. E eu com dó da criança, querendo levá a criança. Mais aquela vontade de pegá ele que dava, chegava perto queria pegá. Mais a mulher falando, não pega, não pega né? Me falando pra não pegá. Aí eu fui em casa: - mãe, tem uma criancinha chorando no barranco, eu fui pegá e a Izabé falou pra não pegá. - Você não vai chegar perto! Amanhã eu vou vê lá então. Eu vou vê lá e conto o quê que é. Eu vou vê. E a mãe veio vê. Aí eu vim com a mãe mostrá onde ela tava, no mesmo lugarzinho. A mãe falou assim: - vamo embora filha que esse aí é coisa do outro mundo. Deixa aí. Aí ela falou assim: - você não vai pegá isso aí que é saci. A mãe falou. - Levanta e vai embora! Falou pra ele. E a mãe levou um rosário, que naquele tempo ela sempre usava um rosário no pescoço. Ela era muito católica. Ela tirou o rosário, e botou o rosário, assim perto dele. Quando botou o rosário, ele ficou grandão. Ó saiu assim [gesto com a mão] pra fora. A mãe: - ó se ocê levasse, ele ia crescer no seu pé e ficá em casa depois. - Você pode ir embora, pode ir embora, você não é daqui desse mundo. Jogou o rosário assim perto dele, ó e ele levantou e saiu. Ele tava grandão assim. Saiu pulando, sumiu, desapareceu. - Você pode sumí. E se eu pego? Ele grudando....a mãe falava assim: - se ocê pegá essa criança, por essa criança no seu colo, ele ia crescê, grudá em você, e ficá com você. Porque ele fica, acho que ficava com a gente né? E lá em casa, todo dia os cavalos amanhecia cheio de estrivo. Sabe aquele negócio...