: Daí que eles fechô o bar lá, a vendinha.
: Feiz o marido vendê tudo a terra dele, ficô só com um pedacinho. Agora vendeu lá!
: Nossa!
: O marido dela. Ela morreu, né? Ela trabaiava com nói, assim, na chácara da turma, assim, que a turma comprava terreno, assim, aí nóis trabaiava. E eu aproveitei, porque eu ganhei muito dinheiro quando veio a turma de São Paulo. Eu pegava o serviço e ponhava outro pra trabaiá, ganhava, ganhava bem. Gastava tudo em cachaça, mai ganhava bem. [Risadas].
: [Risos].
: Aí ela entrô trabaiá também, perguntô pro homem lá se podia, pro dono, se podia muié trabaiá.
- Pode.
- Mais cê vai trazê muié?
- Ela qué trabalhá.
Tudo era ruinzinho de serviço, então, cada um tinha um preço. Se fosse bom no serviço, pagava mais, se fosse mais ruim, pagava menos. Aí ela tinha uma menininha assim pequena, fervia de grito lá. Tudo dia com, tuda semana com cunhado do dono ia pra cidade, encomendava uma coisa, que era, falava:
- A fulana tá lombrigado. Tá cum vontade de comê, né?
Aquelas coisa, aí...
- Mai que negócio é esse, tudo dia lombrigado, tudo dia lombrigado?! Mai na cidade num tem nada disso!
Eu falei:
- Ah, Seu Fulano, mai sabe como é que é aqui, né? Aqui num tem geladeira, se pudé comprá num tem geladeira, se tivesse, tivesse geladeira, nem que fô a...
A luz depois começô a chegá, com turma da cidade também começô a vim, né, daí a turma mandaram. Pra turma daqui tava sem luz até hoje acho.
: Hum.
: Aí, fala:
- Cê tem geladeira, tudo que seus filho quer, abre aí a geladeira tem, e ela, se vê, as veiz tá assim [...], se ela vê lá quarqué coisa que ela gosta, ela vai ficá com vontade.
: É.
: Que tá com fome.
: Aham.
: - E o seu não, o seu tá com barriga cheia, abre a geladeira e pega o que qué. E aqui não tem isso não.