: Fazia mijolo também.
: A gente encomendava pra ele, mais ele falava: - mai eu num tenho madeira guardada. Às vezes tinha já guardado né. - Eu num tenho, demora uns até murchá pra fazê, senão dá vazamento o barco.
: Como que era que...
: Ah o barco?
: É, que fazia.
: Serrava a tábua do mesmo jeito que eu tô falando pro cê, madeira grossa. Daí ele fazia o trabalho lá pra empená e cortá e fazê o barco. A gente falava bote, naquele tempo, não é barco é bote.
: Amarrava a tábua...
: Amarrava a tábua, moiava, fazia curva assim, fazia o bico do bote, ponhava uma tábua assim na lateral, fazia um fundo com as travessinha no fundo. Eu via ele fazendo, num guardei bem, mais tem, fazia a travessa no fundo, ponhava duas viga embaixo, e ponhava as travessinha no fundo, um no meio grande, depois vinha diminuindo, diminuindo, diminuindo, a traseira do barco ficava quadrada, a frente ia fazendo isso aqui [gesto com a mão], diminuindo. Daí ela esticava uma linha tudo certinho, dele vinha, pegava uma madeira, a tábua, pregava no primeiro do meio assim que era o grandão, esforçava fazia chegá no outro, esforçava fazia chegá no outro, esforçava fazia chegá no outro, amarrava uma corda ia chegando os dois. Pegava um num lado e no outro. E os dois num sentido só. Daí ia chegando os dois até num lugar, o dali ponhava outro em cima pra num deitá, ponhava uma travessa em cima escorando, tipo de uma escora. Ia pregando, fazendo tudo na ferramentinha num dava vazamento de água, num entrava água não. Não ponhava vedação nenhuma. Às vezes passava arguma coisa pra proteger a madeira ele ajudava, mai é tudo na mão, feito com ferramenta pra ele tudo. Pra fazê o barco, o botinho. Feito dessa largurinha assim. E a traseira ficava nessa largurinha, onde a gente sentava pra remá, e o bico, ficava bicudinho assim. Além de ficá assim, ele ficava assim, a frente dele, senão não anda. Se fizé reto, não anda. O fundo também tinha que fazê isso aqui.
: E fazia num dia (risos)?
: Ah não, ia uns par de dia. E fazia a bancada dele tudo feito no chão, lá de pau fincado pra ajudá ele, pra favorecê a trabaiá. Ele fazia até sozinho, às veiz vinha argum na hora de fazê o fechamento do barco, ajudá ele. Esse era, ele fazia muito de cedro, eu alembro que eu encomendei uma veiz nóis mandemo ele fazê dois pra nóis, esse é o meu padrasto, ele feiz de madeira, feiz um mais pequeno e um maior. Ele falou: - ocêis num querem nem pra caçá, nem nada, só pra daninhar na água memo, fazê um mais pequeno. Tem umas tábuas reservada, que num dá pra fazê pra freguêis, que exige uma barco maior, daí ele feiz um pequeno pra nóis e um maiorzinho. Era só pra nóis daninhá na água memo, ia na água largava o barco, pulava no meio água só pra fazê frescura (risos). Então, é... tinha esse tipo de coisa que aproveitava a madeira.