: Então essas coisas que o senhor tá contando era antes da represa, antes da rodovia...
: Antes da represa, antes da represa. Depois que veio a represa...chegou a represa acabou tudo isso que eu tô falando, não tem mais nada. Arguém que tentou ainda derrubá mato (riso), arguma coisa por perto da represa ainda se ferrou ainda. [...] Então tem...agora além de mato, tem muita gente que tentou aproveitá arguma coisa, mais não dá pra aproveitá muito não. Depois que a água encheu começou a...daí foi feita a nova estrada em vorta, daí já começou mai perseguição. O pessoal do sítio, já todo mundo, a maioria já foi embora, que tudo morava, a maioria do sítio foi tudo desapropriado. Argum recebeu, argum não. Saiu gente aí praticamente com a mala nas costa, sem nada. Porque tinha o terreno, num tinha documento. Não tinha documento a firma não paga, o governo não pagava. Dá uma indenização dos benzinho que tinha lá. Que nem a história que eu comecei a conta pro cê, do túnel de Piracaia, no bairro do Crioulo. Lá eu que fui fazê o levantamento, tinha um casal de véio na casinha, era uma casa assim bem antigo mesmo, de tijolo, que a casa [...], a casa ficou mais alta assim no terreno, e o casalzinho de véio lá. E nóis fomo medi a casa lá. Daí o topógrafo era bom de coração também, até falou: - Ernesto, vamo dá ponto em tudo quanto é coisa que esse homem tem aqui. Cerquinha de bambu, cerquinha de cavatá, coisinha de galinheiro que achava aquelas coisinha de chocá galinha, que a turma faz no sítio, na beira d’água pra galinha, num pode deitá porque tem água embaixo, pra ela saí do choco. Então tudo que nói foi dado, o topógrafo anotando na caderneta, anotando, anotando. Quando chegou o dia... daí o véinho coitadinho: - e agora pra onde nói vai com a véia, nói não tem dinheiro, era a primeira casa ia ser desapropriado, ia esborrifar logo, que os maquinário ia chegá, ia estacioná lá e começá o corte lá. Como é que nóis faiz, eu não sei nem o nome dele, nói ia lá, nói tomava café de garapa, não sei se cê sabe o que é o caldo de cana que fazia café, eu adoro até hoje, ia lá tomava o café com ele, conversava, o topógrafo ia lá, tomava água, e nói tinha amizade com ele, ele falou: - óia vamo adiantá o lado desse véio, pra, que vai ser desapropriado, tem que adiantá rápido. Medimo, medimo, medimo, três, quatro firma medindo, nóis fomo lá conferir, daí ele levô, ele jogô na mesa do encarregado não, do chefe lá em São Paulo [...]. Daí cheguemo lá, era um véinho assim baixinho, daí ele falou: - ó esse aqui é de lá do terreno tal, tal, do bairro do Crioulo, e o casal de véio num tem pra onde ir e vai sê retirado rápido, o maquinário vai chegá. - Tá bom, vamo vê o que nói pode fazê. Daí esse véinho, orientou nói, orientá o véio, pro véio não aceitá a primeira proposta. Falou não aceita a primeira, na segunda sim, que senão depois da segunda aí vai pra justiça, daí desapropria, tira a pessoa e fica na justiça e aí vê o que dá, se pega mais valor ou não. Daí fomo lá falemo pro véio, o véio concordou com nói, na primeira proposta ele tava morando lá ainda, foi o engenheiro falou ói, fez a avaliação, falou: - não é obrigado o senhor aceitá esse, espera chegá a segunda proposta. Que quando chegou a segunda, quase matou o véio do coração, o valor que veio pra ele. Porque foi declarado tudo, um pé de flor que tinha no terreno foi declarado, foi feito levantamento de tudo. E o homem num tinha coisa de valor praticamente, nem a casa era de valor né? O homem recebeu tanto dinheiro, daí ele pegou foi pra Piracaia comprou um lotinho fez a casa, não sei que fim que levou porque ele era véinho acho que morreu logo. Mas ele saiu dali, já na outra semana o maquinário já, chegando pra fazê o trabalho no túnel. Então tinha essas coisa, o véio tinha o documentinho, tinha mais, num tinha nada o terreno...era muito pobrezinho, a casinha véia. Mas desse tipo tinha muita gente que saiu, que não recebeu o que valia. Um tinha medo de não aceitá e perdê tudo, o outro porque tava precisando, já aceitava a primeira pra saí, a primeira vinha abaixo do valor, longe, abaixo do valor. E, muita gente, quem, aqui de Nazaré que eu sei que saiu bem foi só um aqui em Nazaré que é parente até, esse saiu bem porque o negócio dele estourou depois, que ele tava acomodado num tinha compromisso nenhum, ele ficou rico com isso daí. Mai os outro, esses coitadinho que nem no caso vamos supor nóis assim, se chegasse uma desapropriação aqui, a gente sai com a mala nas costa porque com quê dinheiro? O dinheiro vem, mai vem no banco, é, coisa demorado, e vem baixo do valor que vale, quem tinha documento, quem num tinha avaliava o que tinha assim de propriedade dava lá um coiso, ele assinava lá um termo lá e pronto, já entrava tudo na desapropriação, já não era herdeiro mais daquilo, não era dono. Esse teve muito, muitas pessoas e por isso acabou. Se ocê procurá, no bairro, no município de Nazaré inteiro, o município inteiro, o que sobrou fora da represa, ocê não encontra 10% de morador, da região, encontra assim neto, de filho pra cima, o mais antigo já saiu, já morreu pro outro lado de Nazaré, Perdões [Bom Jesus dos Perdões], Atibaia, que eles mudaram, que foram atropelado daí, que nói falava o modo de dizê, mai saiu um pouco de dinheiro, argum aproveitava dava pra comprá uma casinha, um lotinho naquele tempo, e se virava com a vida pro outro lado. Daí foi acabando, já acabou a planta, a lavoura que tinha, o corte de lenha, carvão, que era o comércio, o forte da região de Nazaré, do município, era carvão e lenha, era esse o forte. De mato, de eucalipto era muito pouco, era pouco eucalipto que tinha naquela época.