: E usava que...que madeira?
: A turma, não dava pra fazê forno, era complicado pra levá material, fazia de madeira, era mais prático.
: A madeira que vinha.
: Só que dava um trabaião danado na hora de queimá. Tinha que amanhecê ali oiando senão estourava um foguinho pronto perdia tudo. Se abrisse um buraquinho lá e a pessoa não vesse pra tapá, outro dia tava cinza só, num sobrava nada.
: Qualquer madeira usava.
: Tinha que dormi ali oiando em vorta.
: Isso fazia com qualqué madeira então?
: Todas essas madeiras. Tudo quanto é madeira que cortava ia ali dentro. Madeira boa, ruim, tudo, pra limpá o terreno pra fazê planta. Às vezes limpava, que nem na época foi limpado só pra limpá memo o mato, ficou pouco lugar, essa parte embaixo aqui, ficou pouco lugar que a turma plantou, que é muito morro né? É muito acidentado não tem como. Mais era muito divertido aquele tempo da roça. Sofrido, mais divertido. A gente saía na rua, na estrada, reunia um, dois, três, vamo tar dia fazê tar coisa? Acerava pra por fogo. Arrumava o mutirão também, pra segurança, pra não passá fogo no mato do vizinho. Então fazia, o acero, carpia todo o acero, pra no dia de queimá, chamá os amigos, e começá a rodeá de fogo. A quadra inteira que era roçada que a turma pra fazê planta e socava fogo na boca da noite.
: E o acero fazia como?
: O acero era carpido assim, na divisa do roçado, dependendo do faixo que tinha, era mais largo, dependendo era mais estreito, fazia assim dessa largura da sala assim, carpido, jogando mato pro lado de quem ia por fogo, pra combatê a chama e subia um, pondo a pé lá em cima, dois ou três, e carcava fogo de cima pra baixo. Daí descia. Se ponhasse fogo do lado pra cima ou a favor do vento ninguém segurava mais não, daí passa no vizinho, passa no mato, joga uma faísca. Tinha muita queima de mato aqui, que nem passa na televisão hoje. Tinha muita queima de mato que a turma fazia o acero de quarquer jeito ponhá fogo de quarquer jeito, o vento, que isso aí é imprevisível, é coisa que atrapaia memo, o vento tá soprando aqui, então cê faz de lá pra cá, na hora que cê põe de lá pra cá o vento vira. Pronto. Já tá feito, daí tem que chegando o fogo nas beiradas, pra aquele foguinho devagarinho ir avançado pra ficar mais largo o espaço pra não pulá pro...que ele deita o fogo que dá aquela lenha de longe, com o vento, nossa. Era divertido, o dia da noite era divertido de fazê essa bagunça, fogaréu pra tudo quanto é lado. Que não é pequenininho assim, era, vamos supor uma área dessa aqui [seu sítio] inteiro numa fogueira só. E naquele tempo não tinha né? Perseguição que tem hoje, e a turma...parece que era mais bem cultivado do que hoje que tem tanta gente oiando, observando, e... fartura tinha né? Porque o próprio pessoal do sítio, ele controlava, que se ele derruba uma mata desse, mete o pau a plantá, plantá, plantá, e larga mão, aquilo ali acaba em nada, nem mato não sai direito, e nem planta mais, então o que ele fazia: plantava lá uns três, quatro ano lá, sem adubo, sem nada, era natural. Daí quando começava a minguá, que a gente falava, daí parava, daí deixava o mato saí de novo. Quem tinha necessidade de fazê pasto fazia, quem num tinha deixava formá o mato de novo. Daí ia mexê noutro lote, fazê outra roçada, ou deixava aquele ali ficá até uns quatro, cinco ano às veiz, aquele mato formando, a terra vortava [...], daí a turma ia lá de foice roçava de novo, tacava fogo, que é esse que eu tô falando, tacava fogo e fazia o roçado de novo, plantava lá mais uns três, quatro ano, enfraquecia, fazia o mesmo de novo. Porque o fogo, o fogo num ponto ele ajudava e num ponto ele estraga. Ele ajuda: que a cinza, junto fortalecia a terra, mas o fogo queima na...judia muito da terra, o fogo em cima. Então, o fogo estragava, mas a cinza compensava um pouquinho. E aí essa beirada aqui da...depois começou quando veio a estrada, começou cortá e já atrapaiá o pessoal do sítio, que nem o dela cortou no meio, já teve que separá gado, começou roubo de gado, facilita, e vai acabando. Roça...muito lugar a estrada tomou conta do trecho inteiro, daí depois veio a represa e acabou .
