: Cargueiro é assim que a turma fala no jacá, no burrinho. Carrega o jacá no burrinho e leva a compra. Era a condução. Era o carro de boi pro mato, cargueiro na roça pra trazê pra casa...
: Charrete.
: ...Lenha...a turma, vamo supor, um mato desse aqui [aponta pra vegetação], a turma requeria pra fazê planta, então ia lá, era tão facinho naquele tempo, requeria na...acho que era no florestal, não alembro direito, requeria, vamos supor de três, quatro parte deixava um. Vamos supor se tira, era um alqueire de mato pra derrubá, tinha que deixá uma quarta, três quarta tirava. Daí quando aquele que tirava tava fazendo planta, a terra cansava, a pessoa abandonava, formava mato de novo, daí iam mexê com outro que tava formado, aquela lenha ali trazia pra casa pra queimá no fogão, fazê comida, no mijolo [monjolo] pra fazê farinha, fazia carvão, e vendia pra arguma olaria pra queimá tijolo, no olaria. E esse era o dinheirinho que a turma entrava da roça, o que vendia arguma coisa pra carvão, ou fazia carvão, era muito pouco isso aí. E, bicho de terrero que a muierada criava, tinha uns compradô que andava passando, pagava baratinho naquele tempo, mas vendia muito, frango, galinha, pato, essas coisa de terreiro, boi memo era difícil pra pessoa vendê um boi. Era só quando o açougueiro, vinha o açougueiro lá e falava: - Ô tem um boi pra tar dia? Era longe, o cara já deixava até marcado pra podê vendê, senão o cara comprava de quarquer um que aparecia na frente. Vendia um boi por semana e olha lá ainda, o açougue que tinha. Então...era apertado, mas era uma vida de fartura. Dinheiro num tinha, a gente andava de, a maioria, de pé no chão, chinelinho de barbante que tinha antigamente hoje não tem mais.
: Chinelinho de barbante, e quem que fazia era a mãe?
: Não, era comprado memo na loja. Como é que era o nome, daquele chinelo de barbante? Paraq... como é que é? É...
: Paragata.
: Paragata. Era de paninho assim em cima e a sola de barbante trançado que nem corda, trançadinho, e durava! Esse era o sapato chique da gente que usava pra saí. Depois tinha o sapatãozinho de serviço e tal, mai a maioria era isso. Então, todo mundo. Lá em casa a minha avó...a família dela a mesma coisa.
: Kichute. Tinha kichute.
: O kichute apareceu depois, já é mais no sistema desse aí. É que nem de jogador só que de pano, de lona né? Aquilo lá durava um século... Então o pai dela, a família dela também usava a mesma coisa. Lá em casa tinha a época de fazê farinha, fazia farinha, quantidade pro ano inteiro, embalava lá num saco, aquele sacão, ponhava num lugar ficava o ano inteiro aquela farinha guardada.