: Eu saí pra dentro.
: Eu falei: - Ai meu Deus do céu! Reuniu ela, passou as coisa pra dentro, e a molecada... esse aqui [seu filho], até hoje ainda é meio maloqueiro, juntou as irmandade dele, os primaiada que morava aqui, e empurra pra lá, empurra pra cá, derrubaram a casa. E entraram, ela [sua esposa] entrou aqui nessa casa, ela, porque eu cheguei depois, ela ponhava um lençol numa porta, uma esteira no outro e era chão, nói...aqui, a casa foi feita cozinha em tudo quanto é cômodo que pode imaginar, até no banheiro foi feito cozinha, fogãozinho de lenha, enquanto a gente mexia n’outra coisa. E foi indo, foi indo, depois de bastante tempo arreboquei, depois fiz esse piso e agora, depois de vinte ano, eu dei uma reforma: troquei telhado, troquei os madeiramento, e levantei as parede, que era assim tudo sem levantá o espigão. E a gente foi fazendo, daí eu num trabaiei mais naquele negócio, mai fiquei tendo, sempre mexia muito no bairro...
... quando vim pra cá definitivo memo, que larguei do táxi, daí virei no sítio, na roça. Parei com o táxi, vendi o carro pra pagá a conta da casa e fiquei sem nada e comecei a trabaiá pra um, pra outro aí, fazer roça, aqui nesse sítio, plantemo de tudo aqui, o que você pode imaginar de coisa de comê nóis plantemo. Na época, fora de época tudo, Deus ajudava o que dava. Tudo, era ela com as criançadinha, e eu aparecia um bico fora, saía fazê. Daí comecei, aprendi a trabaiá de pedreiro também, comecei a pegá algum servicinho pra ir equilibrando e tô até hoje, quase quarenta ano aqui já, sem saí mais daqui, trinta e cinco passa acho, que num saí mais daqui.
: Não, quarenta ano já.
: Num tem, acho que quarenta, tá perto.
: Quarenta ano.
: Que nóis tamo aqui, depois nói tava aqui, daí vem o problema de saúde, a gente vai lutando, lutando, e... mai continua aqui memo, por enquanto. Mais o sítio era muito...naquele tempo a gente...era difícil, mai não era ruim de vivê não. Que tudo que a gente plantava, a gente tinha o resultado, colhia, dava pra mantê, comê, a criançada... sobrava até pra vendê um pouco pra ajudá e a gente fazia uns biquinhos fora também ajudava. E foi indo até agora que, de um tempo pra cá que eu parei memo de tudo, num guento...quando eu parei com esse negócio de roça, virei, só trabalhei com mecânica, trabaiei bastante tempo, e sirvo o pessoal do bairro, naquele tempo já servia, e sirvo até hoje. Nego...tinha dia, que eu fazia prato de comida, duas, três vezes [...]. Gente que chegava, chamá doente, corria pro hospital, num tinha hospital, é o modo de dizê né? No tempo tinha posto de saúde, às vezes nem potinho tinha, a gente tinha que levá em Atibaia. Então eu, socorria um, socorria outro, e quem podia pagá pagava e quem não podia dava gasolina...eu num deixava...era sempre isso, o único que tinha carro véio aqui era eu. Tinha o meu cunhado que tinha venda, mais ele também não parava na casa, ele negociava, e com isso o tempo passou e a gente ficou véio, aqui memo (risos).