: Nossa!
: Ninguém viu. Eles, desceu, pegô a pessoa e pulô pra cima, e saiu, ninguém viu.
: Nossa. Bem rápido, né?
: Rápido demais.
: Pra ninguém percebê.
: É, não perc... Diz que a onça, o ataque da onça num, ninguém percebe.
: Ah, é. Rápido. Precisa, né?
: Precisa, é. Num dá pulo sem, os pulo dela é certero. E isso já é coisa de muitos ano atrais. Já é o, o meu vô que contava pro meu pai, mais...
: Ah, é história do seu avô?
: É, é.
: Mais então bem antiga mesmo?
: Daí a pessoa daqui do bairro que mudou pra Atibaia, depois veio trabalhá, mais, onça sempre teve aqui. Só que, aí o pessoal começô a tirá os mato e elas se, afastaram.
: Hum. E você andava muito na mata, costuma andá hoje?
: Não, não ando mais.
: Mais quando menino?
: Andava, né? Tinha o trecho do mato que eu andava, né?
: Brincava, gostava de brincá? De passear?
: Não, não era brincá! Era serviço memo.
: De trabalho mesmo?
: É. Que o pai colocava as vaca do outro lado do mato ainda, tinha que passá pro meio do mato pra.
: Hum.
: Pra trazê, pra fechá o bezerro a tarde.
: Hum. E pra brincá assim, brincava porque era novo, assim, mais era sempre a trabalho que, quando você passava na mata?
: É, na, na mata sempre a trabalho.
: Sempre de dia, nunca precisô andá a noite?
: Não, a noite não.
: E dava medo, ou não?
: Não.
: E a mulherada tinha medo? A mulherada andava na mata também?
: Ah, andava, a mesma coisa, mesma coisa.
: Costumava andá? Mais a mesma coisa, não tinha...
: Não tinha, não tinha frescura não.