Jussara: Nossa!

João: Ninguém viu. Eles, desceu, pegô a pessoa e pulô pra cima, e saiu, ninguém viu.

Jussara: Nossa. Bem rápido, né?

João: Rápido demais.

Jussara: Pra ninguém percebê.

João: É, não perc... Diz que a onça, o ataque da onça num, ninguém percebe.

Jussara: Ah, é. Rápido. Precisa, né?

João: Precisa, é. Num dá pulo sem, os pulo dela é certero. E isso já é coisa de muitos ano atrais. Já é o, o meu vô que contava pro meu pai, mais...

Jussara: Ah, é história do seu avô?

João: É, é.

Jussara: Mais então bem antiga mesmo?

João: Daí a pessoa daqui do bairro que mudou pra Atibaia, depois veio trabalhá, mais, onça sempre teve aqui. Só que, aí o pessoal começô a tirá os mato e elas se, afastaram.

Jussara: Hum. E você andava muito na mata, costuma andá hoje?

João: Não, não ando mais.

Jussara: Mais quando menino?

João: Andava, né? Tinha o trecho do mato que eu andava, né?

Jussara: Brincava, gostava de brincá? De passear?

João: Não, não era brincá! Era serviço memo.

Jussara: De trabalho mesmo?

João: É. Que o pai colocava as vaca do outro lado do mato ainda, tinha que passá pro meio do mato pra.

Jussara: Hum.

João: Pra trazê, pra fechá o bezerro a tarde.

Jussara: Hum. E pra brincá assim, brincava porque era novo, assim, mais era sempre a trabalho que, quando você passava na mata?

João: É, na, na mata sempre a trabalho.

Jussara: Sempre de dia, nunca precisô andá a noite?

João: Não, a noite não.

Jussara: E dava medo, ou não?

João: Não.

Jussara: E a mulherada tinha medo? A mulherada andava na mata também?

João: Ah, andava, a mesma coisa, mesma coisa.

Jussara: Costumava andá? Mais a mesma coisa, não tinha...

João: Não tinha, não tinha frescura não.